Auto-ajuda no Yoga Motivacional

10 10America/Sao_Paulo agosto 10America/Sao_Paulo 2022 0 comments Jayadvaita Categories Blog 2022Tags , ,

Ensaio 3

Por Jayadvaita Das

Palco de Comédias no Yoga

Dentre as sátiras exotéricas que infestam o espírito de nossa época está a moderna yoga motivacional. Um empurrãozinho leve para que não nos sintamos prejudicados pelo mal posicionamento dos deuses sobre nossas cabeças? Ou uma salutar desculpa para não nos responsabilizarmos pelo que seria natural de nossa condição humana? Ou ainda, uma esquiva religiosa aos pés da bandeira do yoga, para nos proteger de nossa malevolência?

Em outras palavras, cuidado com interlocutores em pele de yogis. Mas também, pode considerar peles de santos, sábios, mendicantes, mentores e cocheiros da infantilidade barbada. Sim, conheço o trabalho de coach sérios, mas quase cem por cento ainda estão precisando de ajuda — ainda que vendam auto-ajuda.

Conhecimento é aquilo que nos conduz ao autoconhecimento, caso contrário é informação que apenas distrairá mais a rasa atenção das pessoas. O remédio que realmente ajuda é o conhecimento e não a performance de palco dos palestrantes motivacionais.

Se por um lado temos o vazio técnico que pode nos paralisar, devido à insensatez do objetivo pelo qual os pomos à prática de uma determinada técnica, de outro lado teremos o vazio semântico (podemos dizer, o vazio metafísico) que embase o motivo proposital do que fazemos ou do dizem fazer por nós.

O traje da ignorância

A verdade é que ninguém está nenhum pouco se importando com você. A menos que você seja um potencial consumidor precisando de ajuda. Somente assim notarão que você existe. Em vez disso, será somente número estatístico dos algoritmos.

É desta percepção de valor que temos, somada ao vazio semântico em que vivemos, o que nos torna vítimas fáceis dos interlocutores (enganadores) do yoga e demais seitas.

Um exemplo. Recentemente disse para uma família, que lamentava a qualidade dos estudos no colégio de seus filhos, que se eles lessem ou estudassem uma hora a mais por dia se tornariam mais inteligentes que seus professores. Riram de imediato, depois silenciaram-se por ponderação.

A raiz da realidade

No estudo sobre os Arquétipos do Yoga, constatei que o problema da desmotivação, falta de propósito e autoconfiança repousa na superficial capacidade de apreender a presença no que é a realidade. Quer dizer, a maioria de nós somente acessa o que está na superfície da realidade, sem considerar o que está regendo e estruturando nossa própria realidade. Por exemplo, colocamos o propósito em algo aparente, não em algo real. Acreditamos na impressão sobre algo, não no objeto que imprime esta sensação em nossa percepção. Buscamos por algo que ‘está lá fora’ sendo que este algo é apenas o reflexo do que há dentro de nós. 

Isto é, historicamente o ser humano nunca consumiu tanta ilusão como se fosse realidade, como se consome atualmente. Isso é o resultado de desconhecermos os elementos que estruturam a realidade em nossa consciência. Esses elementos constituem os arquétipos, mas não os arquétipos da superfície, que até os marqueteiros usam para te vender sonhos — não. Estou falando dos arquétipos constitucionais, que alimentaram mesmo a imaginação dos gregos, egípcios e demais povos antigos.

Interlocutores em pele de yogis

Por mais que pareça absurdo, hoje somos facilmente enfeitiçados pela maquiavélica persuasão de máquinas e parasitas. 

No fenomenal ambiente de ‘aprendizagem e alta cultura’ chamado tiktok, me veio um vídeo de um marqueteirozinho (que ainda mora na casa dos pais e tem quem arruma sua cama, quando acorda, depois das treze horas), onde ele revelava sua estratégia de negócios: “você entrevista seu cliente numa reunião, descobre o que ele precisa, inventa uma solução, oferece uma mentoria e fatura sem saber nada daquilo que ele precisa, e sem que ele saiba que você também não sabe nada do que está falando.” Este é o absurdo da carência humana atual.

Havendo enganados, haverão enganadores…

E ansiando por um estado de plenitude que suprima a estafa virtual, aspira-se por viver sonhos, numa realidade imediata e sem qualquer compromisso prévio ou futuro.

Nesse momento entram em cena os interlocutores do bem humano. Se algo te prende ao passado, traz sofrimentos do inconsciente ou faz emergir seus desejos mais insanos, você encontra ombro amigo em seitas freudianas. Se você precisa de um empurrão para parar de procrastinar, para não se ver sempre na derrota e para  ser alguém um pouco melhor, você pode se orientar por inventores do bem-estar, vendedores sucesso pessoal e engenheiros de metas falidas. 

Mas, se você quer viver intensamente o presente, desfrutar irrevogavelmente do aqui e agora, sem ter que lavar a louça do jantar, busque por mentoria, consultorias ou algum outro técnico do positivismo emocional e pueril para aprender a arte do carpe diem. Nada mais banal…

Portanto, não consuma o yoga motivacional, mesmo sabendo que é droga lícita. Não confie em quem vende soluções aos seus problemas, só para pagar os custos dos problemas dele. Não se aventure na densa floresta das informações, embora pareça ecologicamente correto, esta floresta é somente o pano de fundo da era das distrações. Cultive conhecimento.

Use e abuse do conhecimento como solução para se conhecer. Descarte todo e qualquer tipo de auto-ajuda. Engaje-se no autoconhecimento. Meditai e vigiai para não se corromper por pastores maquiavélicos em pele de yogi.

Mais conhecimento, menos informação.

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Ensaio é uma expressão livre de argumentos que revelem um olhar embasado, crítico e compassivo através da arte da escrita. Se algo tocou em sua semelhança, afirmo não ter sido pessoal, apenas coincidência.

Para não se sentir numa aldeia de ignorância, entre para a Escola de Yogis.